Se você chegou até aqui, talvez esteja buscando entender melhor por que sua mente parece funcionar em um ritmo diferente. Talvez você conheça alguém que vive perdendo o foco, falando demais, se atrapalhando com tarefas simples, e não sabe se é “normal” ou sinal de algo mais. É aí que entra o TDAH — um termo cada vez mais comum, mas ainda cercado de dúvidas e preconceitos.
Neste artigo, vou explicar de forma clara, profunda e acessível o que é o TDAH, como ele afeta a vida e por que é tão importante falarmos sobre esse transtorno com responsabilidade e empatia.
O que é o TDAH?
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurodesenvolvimental crônica, ou seja, que se forma durante o desenvolvimento do cérebro e permanece por toda a vida. Ele é caracterizado por três conjuntos principais de sintomas:
1. Desatenção
Pessoas com esse traço podem:
Ter dificuldade em manter o foco em tarefas simples
Esquecer compromissos e objetos com frequência
Cometer erros por distração
Parecer “no mundo da lua” mesmo em conversas importantes
2. Hiperatividade
A inquietação é quase constante, seja no corpo ou na mente:
Mover-se sem parar, balançar pernas, bater os dedos
Sentir desconforto ao ficar parado por muito tempo
Buscar estímulos constantemente, mesmo em situações que exigem calma
3. Impulsividade
A dificuldade de pensar antes de agir pode levar a:
Interromper os outros no meio de uma frase
Falar sem filtro
Tomar decisões precipitadas e se arrepender depois
Vale lembrar que nem todo mundo com TDAH apresenta os três conjuntos de sintomas. Existem diferentes subtipos: predominantemente desatento, predominantemente hiperativo-impulsivo, ou combinado.
Diagnóstico do TDAH: como é feito e por quem?
O diagnóstico do TDAH não é feito por testes rápidos ou por autoavaliação online, apesar de muitos sites sugerirem isso. O caminho correto é procurar um psiquiatra, psicólogo ou neuropsicólogo com experiência clínica, que usará critérios baseados no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).
Para o diagnóstico, é avaliada:
A frequência e intensidade dos sintomas
O tempo de duração (sintomas devem estar presentes por pelo menos 6 meses)
A idade de início (geralmente antes dos 12 anos)
O impacto funcional (escola, trabalho, vida social)
É comum que o diagnóstico em adultos só aconteça tardiamente, muitas vezes após um esgotamento, burnout ou crise de identidade.
O que causa o TDAH?
As causas do TDAH ainda não são totalmente compreendidas, mas as pesquisas apontam uma forte base genética. De acordo com a CHADD (Children and Adults with Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder), até 80% dos casos têm um componente hereditário.
Outros fatores associados incluem:
Diferenças na estrutura e funcionamento do cérebro (principalmente nos lóbulos frontais)
Exposição pré-natal a substâncias como álcool ou tabaco
Prematuridade
Traumas precoces
Importante destacar: TDAH não é causado por falta de disciplina, má criação ou uso excessivo de telas — esses mitos apenas reforçam o estigma e prejudicam quem precisa de acolhimento e tratamento.
Como o TDAH afeta a vida?
O impacto do TDAH vai muito além da dificuldade de prestar atenção. É uma condição que influencia quase todos os aspectos da vida cotidiana:
Na escola
Dificuldade de acompanhar o ritmo das aulas
Notas baixas apesar de alto potencial
Comentários como “é inteligente, mas não presta atenção”
No trabalho
Problemas para organizar tarefas e cumprir prazos
Hiperfoco em tarefas irrelevantes e procrastinação de tarefas urgentes
Sensação constante de estar “atrasado na vida”
Nos relacionamentos
Interrupções constantes e esquecimentos podem ser vistos como desinteresse
Dificuldade em manter amizades ou relações estáveis
Sentimento de inadequação social
Na saúde mental
Alta incidência de comorbidades, como ansiedade, depressão, transtorno do sono e abuso de substâncias
Baixa autoestima, sensação de fracasso e culpa crônica
A boa notícia? Com diagnóstico, tratamento e informação adequada, é possível viver com mais leveza, organização e autoestima.
Tratamento do TDAH: o que funciona?
Não existe uma cura para o TDAH, mas há muitas formas de manejo que podem transformar a vida de quem convive com ele. O tratamento mais eficaz costuma ser multimodal, ou seja, combinado.
1. Psicoterapia
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a abordagem mais recomendada. Ela ajuda o paciente a:
Desenvolver estratégias de organização
Lidar com a impulsividade
Reduzir a autocrítica
2. Medicação
Estimulantes como metilfenidato (Ritalina, Concerta) ou lisdexanfetamina (Venvanse) são amplamente usados. Em alguns casos, medicamentos não estimulantes são indicados.
Importante: nunca use medicamentos sem prescrição médica.
3. Estilo de vida
Mudanças simples podem fazer grande diferença:
Criar rotinas fixas
Praticar atividade física regular
Reduzir distrações no ambiente
Usar listas, alarmes e aplicativos de produtividade
Técnicas de mindfulness e respiração para acalmar a mente
Por que precisamos falar mais sobre TDAH?
Falar sobre TDAH com responsabilidade e empatia é essencial por três motivos:
Para combater o estigma: TDAH não é frescura nem moda. É uma condição real, com base biológica, que merece atenção e respeito.
Para ampliar o acesso ao diagnóstico: Muitos adultos passam a vida achando que são “bagunceiros” ou “sem foco”, quando na verdade convivem com sintomas há décadas.
Para criar redes de apoio: Quanto mais visibilidade, mais pessoas encontram acolhimento, tratamento e pertencimento.
Conclusão
O TDAH não é apenas uma lista de sintomas — é uma maneira diferente de funcionar no mundo. Para mim, que convivo com TDAH e autismo nível 1, entender essa condição foi o primeiro passo para me perdoar, me reorganizar e começar uma nova jornada.
Se você se viu em algum trecho deste texto, saiba: você não está sozinho. O De Olho no Foco existe para ser esse espaço seguro, informativo e empático. Continue com a gente.
📚 Fontes confiáveis:
DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (APA)