O que você faria se descobrisse que seu filho não é preguiçoso, desatento ou malcriado — mas sim alguém com uma mente que funciona de forma diferente, única, intensa? Essa é a realidade de muitas famílias que convivem com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). E sim, entender o TDAH na infância pode mudar tudo.
Neste artigo, compartilho com você — de pai para pai, de neurodivergente para quem quer acolher melhor — as informações essenciais sobre o TDAH infantil: como identificar, diagnosticar e apoiar com empatia e estratégia.
O que é o TDAH em crianças?
O TDAH é um transtorno neurodesenvolvimental que afeta o desenvolvimento das funções cerebrais responsáveis pela atenção, controle de impulsos e regulação do comportamento. Em outras palavras, ele impacta a forma como a criança se organiza, reage emocionalmente e interage com o mundo.
Segundo a CHADD, cerca de 5% das crianças em idade escolar apresentam sintomas compatíveis com o transtorno. Isso significa que em cada sala de aula, ao menos um aluno pode estar enfrentando esses desafios — muitas vezes sem nem saber o porquê.
Principais sintomas do TDAH em crianças
Os sintomas do TDAH costumam se manifestar antes dos 12 anos de idade e podem ser divididos em três grandes grupos: desatenção, hiperatividade e impulsividade.
🧠 1. Sintomas de Desatenção
Esquecem materiais escolares, tarefas ou objetos com frequência.
Dificuldade em manter o foco por mais de alguns minutos.
Parecem não ouvir quando alguém fala diretamente com elas.
Evitam atividades que exigem esforço mental contínuo (como lição de casa).
Perdem brinquedos ou livros com facilidade.
Esses comportamentos costumam ser confundidos com desleixo, mas têm origem no funcionamento cerebral — não na má vontade da criança.
⚡ 2. Sintomas de Hiperatividade
Estão constantemente se mexendo, mesmo quando é esperado que fiquem quietas.
Falam demais, inclusive em momentos inadequados.
Correm ou sobem em lugares inapropriados com frequência.
Têm dificuldade em brincar ou realizar atividades calmamente.
Essa energia pode ser confundida com “mau comportamento”, mas é apenas a forma como o corpo tenta processar o excesso de estímulos internos.
🚨 3. Sintomas de Impulsividade
Interrompem conversas, respondem antes da pergunta ser concluída.
Dificuldade em esperar sua vez em jogos ou filas.
Tomam decisões impulsivas sem avaliar consequências.
Na escola, esses comportamentos podem gerar repreensões frequentes, isolamento e até exclusão — o que reforça sentimentos de inadequação desde cedo.
Como é feito o diagnóstico do TDAH em crianças?
O diagnóstico de TDAH não é simples e não deve ser feito por achismos ou testes online. É necessário consultar um psicólogo, neuropsicólogo ou psiquiatra infantil com experiência clínica.
O processo costuma envolver:
Entrevistas com pais e professores sobre o comportamento da criança.
Aplicação de escalas comportamentais padronizadas, como SNAP-IV.
Avaliação dos critérios do DSM-5, que exige a presença de sintomas por ao menos 6 meses em dois ou mais ambientes (ex: casa e escola).
Exclusão de outras causas possíveis, como ansiedade, dislexia, depressão infantil ou situações familiares traumáticas.
Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhor. O intervencionismo precoce reduz o impacto negativo na autoestima e no desenvolvimento social e acadêmico.
O que o TDAH NÃO é (e nunca foi)
❌ Não é falta de disciplina.
❌ Não é excesso de telas (embora isso possa piorar sintomas).
❌ Não é uma “modinha” ou invenção recente.
❌ Não é desculpa para comportamento inadequado.
É uma condição cerebral real, reconhecida internacionalmente por órgãos como a OMS e o CDC (Centers for Disease Control and Prevention).
Como ajudar uma criança com TDAH?
A boa notícia é: o TDAH pode ser gerenciado com sucesso. Isso exige um conjunto de estratégias, que variam conforme a idade, o tipo do transtorno e a intensidade dos sintomas.
🧩 1. Terapias comportamentais
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) infantil ajuda a criança a entender seus próprios impulsos e criar estratégias para lidar com eles.
Ensina habilidades sociais.
Ajuda no autocontrole.
Trabalha a autoestima e a autorregulação.
Em muitos casos, a orientação aos pais também faz parte da terapia.
💊 2. Medicamentos (quando necessário)
Os estimulantes, como o metilfenidato (Ritalina, Concerta), são os mais prescritos para regular a atenção e impulsividade.
⚠️ Medicamentos devem sempre ser indicados por um especialista e monitorados de perto. Nem toda criança precisa de remédio — e isso deve ser avaliado caso a caso.
🏫 3. Adaptações na escola
Escolas podem (e devem) realizar adaptações pedagógicas como:
Dividir tarefas grandes em partes menores.
Usar lembretes visuais e estímulos auditivos.
Permitir pausas curtas e frequentes.
Evitar punições públicas.
Um plano educacional individualizado pode ser solicitado, com base em laudo profissional.
🏠 4. Apoio dos pais
A família é o principal pilar no manejo do TDAH. Algumas atitudes ajudam muito:
Criar uma rotina previsível.
Reforçar comportamentos positivos (em vez de punir os negativos).
Usar listas, recompensas e jogos para organizar as tarefas.
Evitar comparações com irmãos ou colegas.
💡 A paciência, aliada ao conhecimento, muda completamente a relação da criança com ela mesma e com o mundo.
Convivendo com o TDAH: um convite ao acolhimento
O TDAH pode ser um desafio, sim — mas também pode ser uma descoberta de potência e singularidade. Crianças com TDAH são, muitas vezes:
Curiosas e cheias de ideias criativas.
Intensamente apaixonadas por temas que amam.
Capazes de pensar “fora da caixa” de maneira surpreendente.
O segredo está em acompanhar com empatia e estrutura. Dar o suporte certo hoje é garantir um futuro mais equilibrado amanhã.
Conclusão
Reconhecer os sinais do TDAH em crianças é um ato de amor, não de rótulo. Quando entendemos que aquela agitação, esquecimento ou impulsividade têm uma base neurológica, tudo muda. Passamos a acolher — e não corrigir. A guiar — e não apenas controlar.
Aqui no De Olho no Foco, criamos esse espaço para ser um farol em meio ao caos mental. Se você está nessa jornada, seja bem-vindo. E lembre-se: seu filho não está sozinho. E você também não.